30 de setembro de 2010

PÓS MODERNIDADE, IGREJA E REINO DE DEUS - PARTE 4

A Música é ferramenta para o reino de Deus

Lembro-me da época em que a música era separada entre “hino” e “música mundana”. Iniciou-se uma abertura, que confundiu-se com mistura e hoje buscamos o caminho do equilíbrio.

Uma definição clássica de música diz: “música é a arte de manifestar os diversos afetos da nossa alma mediante os sons”. Essa definição lembra o que diz o popular “cada alma sente de um jeito”; e assim sendo, cada alma se expressa de maneira diferente.

Há um poder imensurável na música. Tinham, pois muita razão os filósofos gregos ao darem à música um importante papel na educação e formação dos jovens. Aristóteles prevenia que "pelo ritmo e pela melodia nasce uma grande variedade de sentimentos" e que "a música pode ajudar na formação do caráter" e que “se pode distinguir os gêneros musicais por sua repercussão sobre o caráter”. Tal gênero, por exemplo, leva à melancolia, tais outros sugerem o desânimo ou domínio de si mesmo, o entusiasmo ou alguma outra disposição já mencionada. (Citação de Aristóteles - apud W. Matt -Le Rock'n Roll, instrument de Revolution et de subversion culturelle - EdSt. Raphael Sherbrooke, Quebec, 1981 pág. 6)

Platão é ainda mais claro. No diálogo República, ele adverte que a música forma ou deforma os, caracteres de modo tanto mais profundo e perigoso quanto mais inadvertido. A maior parte das pessoas não percebe que a música tem o poder de mudar o coração dos homens, e que assim, pouco a pouco, molda a sua mentalidade. Mudando as mentalidades, a música termina por transformar os costumes, o que determina a mudança das leis e das próprias instituições. Por isto dizia Platão que é possível conquistar ou revolucionar uma cidade pela mudança de sua música.

Para Platão, a educação musical é a mais poderosa, porque permite introduzir na alma da criança, desde a mais tenra infância, o amor à beleza e à virtude. A pessoa bem educada musicalmente mais facilmente perceberia a beleza e a harmonia. E como não há amor sem ódio, ela também odiaria o feio e o mal. E pergunta Platão: "Não saberá (tal pessoa) louvar o que é bom, receber o bem com deleite e, acolhendo-o na alma, nutrir-se dele e fazer-se um homem de bem, ao mesmo tempo em que detesta e repele o feio desde criança, mesmo antes de poder raciocinar? E assim quando chegar a razão, a pessoa educada por essa forma a reconhecerá e acolherá como uma velha amiga". (Platão,República, Livro III)

Bem educados musicalmente, continua Platão, os jovens crescerão numa terra salubre, sem perder um só dos eflúvios de beleza que cheguem aos seus olhos e ouvidos, procedentes de toda parte, como se uma aura vivificadora os trouxesse de regiões mais puras, induzindo nossos cidadãos, desde a infância a imitar a idéia do belo, a amá-la e a sintonizar com ela. (Platão, idem, ibidem.) Por isso, conclui Platão, não se deveria permitir que os artistas exibam "as formas do vício, da intemperança, da vileza ou da indecência, na escultura, na edificação e nas outras artes criadoras... " Não admitiremos que nossos guardiões cresçam rodeados de imagens de depravação moral, alimentando-se, por assim dizer, de uma erva má que houvesse nascido aqui e ali, em pequenas quantidades, mas dia após dia, de modo a introduzirem, sem se aperceber disso, uma enorme fonte de corrupção em suas almas". (Platão, idem, ibidem)

Platão insiste no poder insinuante da música de agir sem ser percebida, a ponto de conseguir destruir ou revolucionar uma sociedade, "pois é aí que a ilegalidade se insinua mais facilmente, sem ser percebida...sob forma de recreação, à primeira vista inofensiva".

"Nem, a princípio, causa dano algum, mas esse espírito de licença depois de encontrar um abrigo, vai-se introduzindo imperceptivelmente nos usos e costumes; e daí passa, já fortalecido, para os contratos entre os cidadãos, e após os contratos, invade as leis e constituições, com maior impudência, até que, ó Sócrates,transforma toda, a vida privada e pública". (Platão, República,Livro III).
Em se tratando de reino de Deus, nossa música tem seguido o padrão pós-moderno e alimentam, quase sempre, uma espiritualidade vazia, sem compromisso sério com a palavra de Deus; outras vezes dizem de desvios doutrinários escandalosos e letras vazias, repetitivas e cansativas. Música é arte, e como tal deve se moldar pelos critérios de originalidade, conteúdo e objetividade.

A bíblia está repleta de exemplos de música para pontear situações espirituais. Eis algumas:
Sucedeu porém que, retornando eles, quando Davi voltava de ferir o filisteu, as mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando e dançando alegremente, com tamboris, e com instrumentos de música. (Ism 18.6)
E os homens trabalhavam fielmente na obra; e os superintendentes sobre eles eram Jaate e Obadias, levitas, dos filhos de Merári, como também Zacarias e Mesulão, dos filhos dos coatitas, para adiantarem a obra; e todos os levitas que eram entendidos em instrumentos de música. (IICr 34.12)
E quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava com a sua mão; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele. (Ism 16.23)
Ora, quando começaram a cantar e a dar louvores, o Senhor pôs emboscadas contra os homens de Amom, de Moabe e do monte Seir, que tinham vindo contra Judá; e foram desbaratados. (IICr 20.21)
Se sabemos desse poder que existe na música, deveríamos, entao empreender os maiores esforços em usá-la para o bem do reino de Deus, para moldar sentimentos dos cristãos, acalentar a alma da comunidade cristã, evangelizar amolecendo corações com boa música, deixando-os prontos para receber a palavra.
Algumas perguntas intrigantes: por que músico “de igreja” nao gosta de ensaiar? Com base em que, alguem chega no altar e diz “nao sei fazer isso direito, mas vou fazer para honra e glória do Senhor”? Será que uma mudança no estilo de música nos cultos deixariam nossas reuniões mais alegres? Deus tem, verdadeiramente, operado em nós por meio de nossas cançoes?. Aguardamos respostas, e o reino de Deus agradece se elas chegarem rápido.

Um comentário:

  1. Pastor, você acha que o Cristão pode ouvir/tocar músicas seculares, sendo elas poéticas ou que expressem sentimentos e belezas como o amor, a natureza ou situações do cotiditiano?

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